Na PSP há um muro que divide duas fações: de um lado, estão os sindicatos que não assinaram o acordo e querem voltar às ruas com o apoio das associações não representativas. Do outro estão os do acordo.
A ideia de alguns é muito simples: juntam-se todos os sindicatos da PSP e da GNR que não assinaram o acordo do subsídio de missão com o Governo, acrescentam-se os sindicatos que não têm representação por terem menos de mil sócios – mas trezentos aqui, cem ali, é possível que se façam escutar, acreditam – e está formado o quadro perfeito para um regresso às ruas, com as manifestações e com os protestos nas esquadras. Tudo isto é o sonho de alguns para setembro. Mas, já lá vamos.
Do outro lado da barricada, estão os sindicatos da PSP e as associações socioprofissionais da GNR que também assinaram o acordo, embora o líder do Sindicato Nacional de Oficiais de Polícia, Bruno_Pereira, já tenha dito que se soubesse o que sabe hoje que talvez não tivesse assinado. Estes sindicatos devem continuar do mesmo lado da barricada e é possível que formem outra plataforma. E qual a razão para tamanha desilusão? O acordo que o Governo fez com os militares, mostrando que as linhas vermelhas que existiam para as forças de segurança não existem para outros. Significará isto que os militares estão todos contentes? Não, não estão.
E quem é o denominador comum da revolta de ambas as partes? Nuno Melo, ministro da_Defesa, que teve a habilidade de enfurecer as forças de segurança e de ter dividido os militares. Como? Primeiro, ao afirmar que nenhum militar ficaria a ganhar menos do que um elemento das forças de segurança; depois ao dar aos soldados regalias que não deu a outros militares, sem se ter apercebido do conflito em cadeia que criou. Por fim, por ter negociado com as chefias militares, tendo desprezado as associações sindicais dos militares.
O rosto da contestação tem sido Armando Ferreira, líder do SINAPOL, que na televisão já demonstrou toda a sua vontade de fazer uma frente unida que marche pelas ruas até o Governo voltar atrás e rasgar o acordo que fez e faça um novo. Ferreira até explicou que já aceitou incorporar uma associação, mostrando como está a dar corpo a uma frente comum. E aqui, as opiniões dividem-se muito, e permito-me a um parêntesis._Se em África se deve começar por dizer bem e depois dizer o que está mal, aqui vamos começar ao contrário e damos a palavra a Pedro Carmo, líder da Organização Sindical dos Polícias, e um dos fundadores do SINAPOL. «Há aí alguns sindicatos que não se querem extinguir, querem continuar a ter alguma continuidade e andam a tenta fundir-se com outros. Alguns deles bastante antigos e que nunca conseguiram vingar.. Infelizmente, a disputa de sócios dos sindicatos na polícia é muito pelos seguros de saúde, pelos cartões da gasolina e por aí fora, pois muitos nem sabem o que é um sindicato É uma ficção dizer-se que os sindicatos que não têm representação se vão unir ao SINAPOL», começa por dizer. Pedro Carmo, antigo vice-presidente de Armando Ferreira, explica que a única associação que se juntou, para já, ao SINAPOL, foi a Associação Representativa de Polícias (ARP), de Rufino, que já tinha pertencido ao sindicato, mas que, por divergências, se afastou e formou a ARP depois de ter passado pela Organização Sindical dos Polícias (OSP).
A história da ARP não é muito diferente do Sindicato Vertical e do Sindicato de Polícia pela Ordem e Liberdade (SPPOL) que, segundo Pedro Carmo, resultam de uma cisão com o Sindicato Independente dos Agentes de Polícia (SIAP). Para ajudar quem não é polícia, diga-se que a PSP tem sete sindicatos com representação sindical – os generalistas precisam de mil associados para terem representantes, já os de classe, como o dos Oficiais ou de Chefes, conseguem eleger representantes se tiverem 20% do total da classe. Depois há as associações que não têm mil associados, que devem andar à volta de 10. E é aqui que o SINAPOL, e não só, tenta pescar ‘militantes’ para ter mais poder negocial.
A traição da ASPP
Nos grupos das redes sociais de polícias, dois nomes sobressaem: Nuno Melo e Paulo Santos, líder da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP), o maior sindicato de polícias. Um dos agentes não tem papas na língua quando ataca o ministro: «Quando precisares chama os militares. Quando for preciso para a família que chame as forças armadas», lê-se entre outros mimos.
Já o líder da ASPP é o grande alvo e dizem do sindicalista o que Maomé não disse do toucinho. «As pessoas estão muito revoltadas porque já perceberam que dos 300 euros em três anos, limpos, só devem levar perto de 200. Enquanto os militares conseguiram ouro tipo de regalias, nós ficámos por umas esmolas. Nas redes sociais o que se ouve, quase na totalidade, é o pessoal muito revoltado contra a ASPP, e com o sindicato dos chefes, claro que Bruno Pereira, como representa os oficiais, não chateia tanto, além de já ter dito que se fosse hoje que não assinaria o acordo. A ASPP tem perdido sócios que é uma coisa doida. Por exemplo, em Viana, onde há um comando relativamente pequeno, eles devem ter perdido mais de 30 sócios. O que, de alguma forma, é expressivo e dá uma ideia de como a nível nacional o pessoal está muito chateado», diz uma fonte policial sindicalizada.
Para este polícia, é natural que o SINAPOL e o SIAP consigam reunir várias ‘tropas’ para em setembro fazerem barulho, mas nunca com a dimensão do passado. «O_SIAP ainda quer apostar na queixa no Tribunal Constitucional, através de um partido, mas não penso que consigamos alguma coisa com essa história da igualdade com a PJ. É possível que em setembro exista uma nova plataforma, com menos peso, é certo, mas mais ruidosa», acrescenta
Paulo Santos já assumiu ao Nascer do SOL que têm saído uns e entrado outros, reafirmando que tem à volta de oito mil sócios. Bruno_Pereira, que foi um dos rostos da Plataforma que juntou os sindicatos de polícia e as associações socioprofissionais da GNR não tem dúvidas sobre o momento que se vive: «Os polícias estão altamente revoltados e devastados, é o que sinto. É o que oiço, são os ecos que me chegam. Além disso, esta polémica veio alimentar mais aqueles egos ideológicos que, com isto, vão agora, classificar o meio acordo como um acordo muito fraco. Vão dizer: então andámos a lutar e deu isto, os outros com silêncio rádio e têm isso e muito mais?».
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